terça-feira, 16 de agosto de 2011




          
  A relação entre catequese e liturgia vem de uma longa data, uma vez que os sacramentos constituem o ambiente privilegiado da catequese, pois a principal tarefa da catequese foi a preparação dos sacramentos e também preparação a vida litúrgica.




1. Liturgia e catequese: diálogo e tensão
1.1 A insatisfação no campo litúrgico
            Nessa relação faz-se algumas queixas à catequese quanto ao seu trato com a liturgia. Em uma forma de síntese podemos destacar os elementos, que nesta analise, são deixados de lado pela catequese.
            A primeira diz que a catequese subestimou a liturgia, isso estaria relacionado ao fracasso no pós-concilio; a liturgia, em muitas ocasiões, é manipulada em vista dos objetivos da catequese. Não se respeita assim a natureza celebrativa e simbólica; a catequese está preocupada com a dimensão antropológica e com os problemas do homem esquecendo-se da celebração e do culto na vida cristã.
1.2 A insatisfação no âmbito catequético
            Sob o prisma da catequese apresentam-se os seguintes argumentos contra a liturgia:
            A tentativa de atribuir à liturgia um valor absoluto, onde esta não é apenas um lugar privilegiado, mas exclusivo da presença salvífica do mistério de Cristo; o exagero de afirmar a liturgia como fonte da catequese; exaltação da liturgia como fonte primeira do espírito cristão.
2. Novas perspectivas da liturgia eclesial
            O sistema que envolve as celebrações litúrgicas nunca se constituiu um sistema fechado e imóvel, mas na sua essência está permeado de vivacidade e de um dinamismo renovador. Ao longo da profunda mudança ocorrida por meio do movimento litúrgico, vale a pena relembrar alguns aspectos significativos dessa renovação, como meio de se observar a relação entre liturgia e catequese.
2.1 O impacto conciliar.
            Não passa despercebido ao nosso olhar a renovação que proporcionou o movimento litúrgico. Primeiramente como renovação de aspectos que vigoravam desde muitos tempos na vida da Igreja, tais como, formalismo, liturgismo, clericalismo, etc.
            O concilio, por seu turno, lembra que a liturgia é a ação sacra por excelência (SC n. 7), uma definição que resume de forma clara a centralidade da liturgia na experiência cristão e eclesial.
            No entanto, para que o papel da liturgia não fique isolado dos valores absolutos da realidade eclesial, aqui entra como ponto essencial a tarefa exigida à catequese.
2.2 A liturgia, lugar da palavra e sinal da fé
            Numa primeira abordagem deveremos observar a relação existente entre liturgia e palavra. A teologia da liturgia lança seu olhar sobre o papel essencial da palavra, de modo que, esta é parte constitutiva do próprio rito, não como se pensava, um elemento anterior ou acrescentado ao rito.
            A revelação litúrgica na relação com a palavra se mostra nos sacramentos, nesse sentido, o mistério da Palavra de Deus entra no próprio coração dos sacramentos, fazendo com que um ato ritual se torne uma manifestação misteriosa da ação de Cristo em prol da salvação.
            Acoplado a tal realidade nos deparamos com o dado da fé, onde a liturgia é sempre uma palavra de fé da Igreja, que se torna eficaz quando celebrada e vivida na fé. Dessa forma toda oferta litúrgico-sacramental da Igreja se apresenta como uma opção gratuita de Deus oferecida aos homens e que requer a plena resposta na fé. Aqui, por meio de tal definição, se rejeita a visão automática e por muitas vezes mágica da liturgia, haja vista, sempre se requerer a participação viva e consciente do fiel.
2.3 A tarefa aberta da pastoral litúrgica
            Ainda que hoje se tenha um bom contingente de catequistas não se superou bem o abismo que existe entre liturgia e uma pratica pastoral mais encarnada. É certo que a obra conciliar contribuiu para superar certos reducionismos herdados do passado. No entanto, podemos tratar com mais clareza outras questões
            Em primeiro lugar a falta de uma catequese adequada, sendo que todos os esforços de renovação dos ritos não corresponde a uma catequese apropriada a interiorização dos fatos; os limites da reforma litúrgica pós-conciliar, uma obra que procurou mais em  redescobrir a função litúrgica que uma aplicabilidade criativa; quanto ao espaço criativo reservado a liturgia, este não foi bem aproveitado, aqui se critica as deficiências do modo de celebrar.  
3. Evangelização, catequese e liturgia
            Depois de analisarmos a superação litúrgico-sacramental da pastoral tradicional da Igreja, nossa tarefa agora é nos determos na abertura pastoral no horizonte da opção evangelizadora. Nesse sentido deveremos observar agora a relação entre liturgia, evangelização e catequese.
3.1 Unidade profunda entre liturgia, caminho da fé e vida cristã
            Um primeiro aspecto que nos  toca nesta reflexão diz respeito à necessidade de se recompor a unidade entre as dimensões complementares da vida cristã, que ao longo da história se separaram e em outros momentos quase se extinguiram.
            Tendo como referencia as experiências unitárias das comunidades apostólicas, bem como a experiência do catecumenato antigo, modelo de toda catequese, são experiências únicas de u forte fator de amadurecimento.
            Daí se emerge a necessidade de reconstruir a unidade global da experiência cristã, como uma vida de comunidade e de testemunho cristão. Nesse contexto deve-se ressaltar que um aspecto da vida cristã não pode ganhar privilégios sobre outros a ponto de que se crie prejuízos ou uma hierarquia sobre os valores cristãos, mas ao contrario, deve-se garantir a presença de momentos essenciais: anuncio, serviço, celebração e comunhão.
 3.2 Dimensões evangelizadora e catequética da liturgia
            A liturgia apresenta a sua importante função catequética. Enquanto fonte primeira da vida cristã, esta pode ser chamada de catequese permanente da Igreja. Onde a reflexão catequética nela contida se torna um grande catecismo vivido.
            Nesse contexto pode se afirmar que a liturgia apresenta um grandioso potencial evangelizador e catequético. Cabe sempre ressaltar que esta função catequética da liturgia não ocorre de forma dada e mágica, esta ocorre quando se propõe a percorrer um longo de caminho de analise, de renovação e de avaliação de símbolos e de inculturação.
3.3 Catequese litúrgica
            De toda reflexão feita neste trabalho, cabe ainda ressaltar que nada exclui o fato da relação existente entre liturgia e catequese, em função da sua estrutura ritual simbólica e da riqueza de seus símbolos e sinais.
            No sentido de uma iniciação à vida eclesial, a catequese tem a função de também ser uma educação para a liturgia, a fim de que as celebrações dos ritos cristãos sejam uma forma de expressão do autentico caminho de fé.
3.4 A liturgia referência essencial para a catequese
            Se considerarmos a natureza própria da catequese, não podemos eximir desta a função que lhe presta a liturgia naquilo que propriamente pretendemos como educação e amadurecimento da fé.  
            Por sua centralidade na catequese, se percebe que a liturgia é uma fonte de inspiração e de apoio, no contexto celebrativo em que se insere. Nesse contexto muitas realidades próprias da liturgia abrangem com seu significado um campo significativo na catequese, aqui abrimos um espaço para referirmo-nos ao símbolo.
            O símbolo é um recurso expressivo e fundamental na vida humana, sobretudo quando se refere as experiências mais profundas do ser humano, pois se apresenta como um sinal, que além de seu significado imediato, condensa e exprime ricos significados efetivamente inexpressíveis por outras vias.
            Ao lado do símbolo podemos destacar a realidade da celebração. O ser humano celebrativo por natureza sempre se ateve a dimensão de tornar celebre uma realidade festiva na sua vida. Neste senso a celebração tem a função antropológica de comunicação da fé.
            Ainda que a catequese tenha sua dimensão litúrgica, não se pode uma ser privilegiada em detrimento da outra. Isso não significa que todo o processo catequético tenha necessariamente um andamento do tipo litúrgico. É fundamental um relacionamento maduro entre tal relação catequese-liturgia.